Homenagem ao antigo funcionário do DST/Detran, Mário Guerra 03/06/2021 - 13:10

O Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) recebeu um e-mail muito carinhoso do Hélio, que contou a história do seu avô, Mário Guerra, antigo funcionário e figura conhecida do Detran.

Hélio conta que seu avô começou como inspetor no Departamento do Serviço de Trânsito (DST) e depois do Detran, e dentre muitas histórias contadas por sua mãe, Guerra colocava o próprio quepe, invés das caixas de fósforos, para que os candidatos realizassem o teste da baliza.

Ele desempenhou muitas funções dentro do Detran, sendo, inclusive, diretor substituto por diversas ocasiões. Era tão conhecido que foi imortalizado por Poty Lazzarotto em uma gravura.

Leia abaixo a história de Mário Guerra escrita pelo escritor Valério Hoerner Júnior.

 

Histórias de Curitiba - Mário Guerra e a Harley-Davidson

Mário Guerra e a "Harley-Davidson"

Valério Hoerner Júnior

 

"...o rei da garotada nos anos trinta e quarenta foi Mário Guerra, funcionário do Departamento de Trânsito. Grandalhão, musculoso, cabelo avermelhado, o gigante se movimentava velozmente pela cidade em sua superpossante Harley-Davidson, último modelo. Abrindo uma procissão, Mário Guerra inspirava mais respeito que os santos nos seus andores. Nos desfiles de carnaval, sua motocicleta e sua figura atraíam mais atenção do que os carros alegóricos. Centauro com sirena, chefiando a escolta de algum visitante ilustre, era o primeiro a ser visto e o último a ser esquecido".

O texto acima, de Valêncio Xavier, é talvez o mais feliz dentre quantos tenham sido escritos sobre alguma figura conhecida do público.

Apesar da aparente hipérbole na visão poética de Xavier, nenhum debuxo foi tão real e tão caracteristicamente bosquejou os traços dessa figura positivamente incontroversa.

Na verdade, Mário Guerra também pertence à década de cinquenta, tornando-se célebre por ter sido personagem obrigatória do dia-a-dia da cidade.

Se houvesse acidente, era o primeiro a chegar.

Estava sempre no lugar certo.

Atrás dos inseparáveis óculos "ray-ban" e da peculiar imponência, porém, jamais abusou da autoridade que possuía por seu poder de polícia.

Sem truculência, buscava sempre a melhor forma que lhe parecia diante dos problemas.

Uma singular postura. E era acatado. E nem tanto pela irretocável postura, mas pela compostura que dele fazia uma autoridade verdadeiramente exemplar.

Mecânico de profissão, depois de rápida passagem pela Prefeitura Municipal, vinculou-se ao departamento encarregado de zelar pelo insipiente trânsito curitibano.

Dali para frente, desempenharia diversas funções, inclusive a de diretor-substituto.

Começou como inspetor, compondo o batalhão (sic) de fiscalização, o qual, se não me engano, era composto de apenas três pessoas: ele, Guerra, mais Queje e Carmelo.

Equipados com formidáveis Harley-Davidsons, faziam a curiosidade do povo e o assombro e pasmaceira da garotada, que, admirando-os, temiam-nos e respeitavam.

Metidos na farda verde, logo ganharam o apelido de "grilo". Mais tarde, dada a expansão urbana, aumentou o número de componentes do batalhão, e também a popularidade do Guerra.

Gordo e forte, tendia para bonachão. A face rosada refletia a cabeleira ruiva.

Do alto de seu metro e mais de oitenta, como um Poliferno, submetia o reino de Liliput: o "grilo-chefe" oferecia personalidade ao soberbo batalhão.

Com naturalidade converteu-se na suprema autoridade oficial no meio popular: era o comandante de todos os desfiles físicos, esportivos ou religiosos: era a figura máxima de todas as paradas e trajado em gala, farda branca, botas brilhando, aboletado na motocicleta. Mário Guerra era tão importante nesses acontecimentos que se tinha a nítida impressão de que se ele lá não estivesse o desfile ou a procissão não começava.

Diante dos tanques do exército, ele na Harley chegava a ser o mais vistoso.

Compenetrado, o "grilo-chefe" garantia tanto o som do bumbo quanto as ladainhas nas procissões.

Nascido em 1909, faleceu em 1976. Dias atrás, confessou-me um amigo: 'Acho que me formei em medicina por acaso porque quando eu era pequeno o Guerra me impressionava tanto que foi um caro custo me tirarem da cabeça a idéia de ser inspetor de trânsito!"

 

Fonte: Histórias de Curitiba - Mário Guerra e a Harley-Davidson

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